O que dizem os políticos baianos sobre os 100 dias do Governo Bolsonaro



Políticos baianos aliados e opositores ao Governo Federal chegaram a conclusões quase unânimes sobre a performance de Jair Bolsonaro (PSL) nos 100 primeiros dias de governo, completados nesta quarta-feira (10): faltam planejamento, articulação política e sobram desgastes, recuos e polêmicas desnecessárias - sendo a maior parte delas provocadas pelo núcleo governista e filhos do presidente.
“O governo ainda está claudicante [que revela incerteza; vacilante, hesitante]”, resume o senador Otto Alencar, líder do PSD no Senado Federal.
Na Câmara, o deputado Cacá Leão (PP-BA) afirma que o governo fraqueja no diálogo e ainda não levou “uma pauta de discussão de matérias relevantes, como saúde e educação”, cujo ministro Vélez Rodríguez sucumbiu pelas mãos do próprio Bolsonaro. Abraham Weintraub assumiu o MEC com o desafio de recuperar o tempo perdido pelo antecessor.
Aliados, como a deputada federal Dayane Pimentel (PSL-BA), tentam contornar os desarranjos. “Encontramos a casa muito bagunçada e o presidente busca arrumá-la. Nesse processo, deslizes fazem parte”.
Abílio Santana (PR-BA) ressalta confiança no projeto federal, mas acentua preocupação no comportamento monocromático do ocupante do Planalto. “Infelizmente o presidente não escuta ninguém. Bolsonaro é um presidente da República com mentalidade de um deputado revoltado com partidos políticos”.
Prefeito de Salvador e presidente nacional do Democratas, ACM Neto tenta equilibrar a equação. Ele diz que Bolsonaro “inaugurou um novo paradigma na política, acabou com o toma lá dá cá e está nitidamente preocupado em combater a corrupção”. Por outro lado, lamenta que o governo tenha se desgastado com “crises políticas que poderiam ser facilmente evitadas”.
Para Rui Costa, governador da Bahia e presidente do consórcio de governadores do Nordeste, o sentimento “é de perplexidade pelo vazio de propostas”. Acrescenta-se a isso, “aumento do desgaste internacional, declarações e opções ideológicas com diplomacia secular”.
“O relatório de balanço dos 100 dias de governo tem uma única página. E essa página está em branco”, ataca o senador Jaques Wagner (PT-BA).
No primeiro trimestre da sua jornada de quatro anos, o presidente Jair Bolsonaro fez três viagens internacionais ao Estados Unidos, Chile e Israel. Foi questionado, sobretudo, pela “submissão” ao presidente Dolnald Trump ao fechar acordos favoráveis aos americanos, mas também por decidir instalar um escritório de negócios em Jerusalém, mesmo tendo embaixada brasileira em Tel-Aviv. A medida desagradou e muito a países árabes com os quais o Brasil tem histórica relação comercial, especialmente no agronegócio.
Ao longo dos 100 dias, o governo ficou preso em discussões improdutivas para o país, como o uso das cores rosa ou azul para meninos e meninas – suscitada pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves -, ou a polêmica pela comemoração do golpe militar de 1964, além da troca de farpas entre Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara Rodrigo Maia sobre a articulação da reforma da Previdência.
ABRE ASPAS: O que dizem os políticos baianos sobre os 100 dias do governo Bolsonaro
Governador Rui Costa (PT)
“É de perplexidade pelo vazio de propostas, mas em cem dias dá para você planejar e anunciar os caminhos que você quer seguir em cada pasta e isso nos deixa assustados com o futuro do nosso país, com recessão há quatro cinco anos. Aumento do desgaste internacional, declarações e opções ideológicos com diplomacia secular. Somos conhecidos como país pacificador, missões de paz e hoje tomando partido em missões que não nos pertence e senão melhorarmos nossa imagem internacionalmente será ruim para atrairmos investimentos internacionais e alavancarmos nossa economia.”

ACM Neto - presidente nacional do Democratas e prefeito de Salvador
“Não sou do tipo que gosta de avaliar governo por 100 dias. Acho que 100 dias é pouco tempo para avaliar governo. Teve crises políticas que poderiam ser facilmente evitadas, que geraram desgaste. Mas é um governo que inaugurou um novo paradigma na política e acabou com o toma lá dá cá. Compôs o primeiro escalão por escolhas do presidente, com nomes técnicos. Um governo que está nitidamente preocupado em combater a corrupção”.

Senador Jaques Wagner (PT)
“O relatório de balanço dos 100 dias de governo tem uma única página. E essa página está em branco. O presidente – que já assumiu que não nasceu para ser presidente, só para ser militar – precisa sair do Twitter e começar a coordenar a equipe dele, que só faz bater cabeça. E ainda colocou como pauta prioritária uma reforma que penaliza os mais pobres e alivia para os barões e sonegadores".

Senador Otto Alencar - líder do PSD no Senado Federal
“Ele cumpriu o compromisso de nomear ministros sem ouvir os partidos, sem indicação partidária, mas já demitiu dois ministros e está na véspera de demitir o terceiro, que é o do Turismo. Bolsonaro não mostrou nenhum caminho para corrigir economia, desemprego e a falta de perspectiva [...] o governo ainda está claudicante. Vou ficar na oposição responsável, mas torço pelo Brasil. Não passa pela minha cabeça passar mais quatro anos como senador nesse cenário de crise”.

Abílio Santana - deputado federal (PR-BA)
“Eu sou eleitor de Bolsonaro, acredito nele e sei que ele está lutando para cumprir o que prometeu. Mas, como parlamentar digo que infelizmente o presidente não escuta ninguém.  Bolsonaro é um presidente da República com mentalidade de um deputado revoltado com partidos políticos”.

Deputado federal Daniel Almeida - líder do PCdoB na Câmara dos Deputados
“Administração desastrosa. É um governo que não agrada ninguém, nem a base dele própria, que a cada dia perde apoiadores. Sinaliza dias muito difíceis ao país pela agenda que ele tem encaminhado até aqui. Prevalece no governo medidas irracionais, pouco pensadas, idas e vindas. Anuncia coisas sem maturação e a reforma da Previdência tem esse conteúdo. A reforma não tem maturação dentro do governo, eles não têm condição de defende-la, batem cabeça o tempo inteiro. Tem comportamento atabalhoado. É uma grande mentira de que, se não fizer a reforma da Previdência, o país quebra, mas botaram com esse tom.

Deputado federal Cacá Leão (PP-BA)
"O governo ainda precisa se encontrar. A gente não vê ainda nenhum tipo de planejamento para que a expectativa que os brasileiros depositaram em Bolsonaro e em seu governo seja atendida. O governo ainda não tem uma pauta de discussão de matérias relevantes, importantes como educação, a questão da saúde. Os filhos têm mais atrapalhado mais do que ajudado. A gente entende o papel de pai, o carinho, mas ele tem que entender o seu papel, que não é mais de candidato, é papal de presidente da República. Eles precisam tomar conta das suas funções e deixar o pai ser presidente da República”.

Deputada federal Dayane Pimentel - Presidente do PSL na Bahia
“O governo demonstra que está apto a construir uma política de acordo com o que a sociedade acredita, e isso é extremamente positivo. Encontramos a casa muito bagunçada e o presidente busca arrumá-la. Nesse processo, deslizes fazem parte, e Bolsonaro sabe que os deputados e senadores, enquanto representantes democraticamente eleitos, são forças imprescindíveis para gerar os resultados objetivados. Se nós, governistas, alcançarmos esse equilíbrio entre o clamor da sociedade civil e a força do poder legislativo, aprovaremos reformas, abriremos o mercado, geraremos empregos e colocaremos o país no eixo. Depende do Presidente tanto quanto depende do Congresso Nacional o sucesso não somente destes cem primeiros dias, mas de todos os quatro anos. Sigo com boas expectativas e estou aqui para ajudar no que for preciso para trazer dignidade a nossa nação”.
Alice Portugal (PCdoB)
“Os 100 primeiros dias tem causado um pessimismo muito grande para aqueles que apostam no desenvolvimento do Brasil, em uma retomada da economia. O governo mais impopular nos seus 100 primeiros dias desde 1985, quando retomamos a democracia. Depois, protagonista de vexamos internacionais, tentativa de envolvimento nas causas internas de países vizinhos e até no conflito entre árabes e judeus. É desastre na economia, na previdência social porque propõe a retirada dos direitos dos trabalhadores. É desastre na Educação, nas relações internacionais. O Brasil padece desse governo que se desintegra aceleradamente e nos deixa com futuro incerto. Um governo que, sem dúvida é monitorado por setores das Forças Armadas, também dirigido por parte do Poder Judiciário e do Ministério Público, que formaram esse cinturão ideologizado”.

*Colaboraram Bruno Luiz e Tamirys Machado 

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