As eleições de 2022 devem afetar as eleições de 2020? Parece que sim





Se as eleições de prefeitos e vereadores devem interferir no pleito seguinte, quando deputados, senadores e governadores serão eleitos, é possível que 2022 influencie em 2020? Pela movimentação de alguns partidos, é provável que as costuras das próximas eleições gerais também impactem na construção das alianças para as disputas municipais. A primeira mobilização nesse sentido envolve o PDT e a possível filiação do secretário de Saúde de Salvador, Léo Prates. A segunda segue nos bastidores e pode ser um rascunho não realizado, mas não deixa de ser um movimento expressivo: a sugestão de que Jaques Wagner pode ser novamente candidato ao governo em 2022.

O senador da Bahia apareceu nas rodas de conversa como uma opção do PT para manter o Palácio de Ondina. Diante da falta de um nome expressivo para a disputa da prefeitura de Salvador, o partido teria então voltado os olhos para o próximo pleito, ainda que de maneira muito discreta. Wagner é um nome de consenso, conforme relato do vice-governador João Leão. Seu retorno ao governo seria uma alternativa para manter as alianças com legendas como PP e PSD, duas siglas extremamente expressivas no interior e com musculatura para serem decisivas em um processo eleitoral.

Caso o nome do ex-governador apareça “para jogo”, a chance de conter ímpetos de aliados rebeldes é alta. Por isso, mesmo que o Galego surja apenas para cumprir tabela, já que tem mandato como senador até 2027, a demarcação de território por parte do PT é relevante. Além disso, o perfil aglutinador de Wagner pode permitir que lideranças do interior que eventualmente pensam em “mudar de lado” já em 2020, apostando em uma candidatura forte de ACM Neto em 2022, fiquem ressabiadas sobre a hipótese de vida fácil do prefeito de Salvador para o governo.

Pode parecer estranho, porém essa ação do PT remonta a experiência prévia do então PFL em 2006, quando os prefeitos do interior fingiam apoiar Paulo Souto enquanto Wagner cresceu e venceu ainda no primeiro turno. Ao buscar evitar essa debandada de “grandes eleitores”, mesmo que em um movimento não confirmado, o grupo atualmente sob a batuta de Rui Costa mantém bem tecida uma rede de relacionamento político em 2020 com vistas em 2022. São quase que complementares e extremamente imbrincadas.

Voltando a Léo Prates, o movimento de aproximar ACM Neto do PDT agora é um vislumbre de como os pedetistas devem marchar no embate pelo governo da Bahia. Nos bastidores, já é dada como certa a saída do partido da base aliada de Rui quando houver a oportunidade correta – afinal, é importante sair pela porta da frente e evitar batê-la com força. E olha que, se Wagner vier a ser candidato, não duvide que haja uma reversão desse quadro.

Olhar para eleições no Brasil é assim. Você não pode observar apenas o retrato de um único pleito. Por mais absurdo que possam parecer, as elucubrações sobre o tema têm reflexo no presente e no futuro. E as coisas são tão mutantes que, enquanto você está lendo esse artigo, algo pode ter mudado. O importante é não deixar de acompanhar o movimento.

Este texto integra o comentário desta quinta-feira (17) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM e Valença FM.

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