Bahia teve 12 casos de assédio ou agressão a jornalistas em 2020, diz sindicato


Bahia teve 12 casos de assédio ou agressão a jornalistas em 2020, diz sindicato
Foto: Paula Fróes / Correio*


Somente em 2020, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia (Sinjorba) registrou 12 casos de agressão ou assédio a profissionais da imprensa.  As ocorrências se somam ao episódio ocorrido no último domingo (15), em Salvador, quando a fotojornalista Paula Fróes, do jornal Correio*, foi intimidada por manifestantes bolsonaristas num protesto contra o fechamento do comércio na capital baiana (leia mais aqui).

 

O levantamento das agressões registradas no ano passado foi divulgado ao Bahia Notícias pelo Sinjorba. As ocorrências aconteceram em Salvador, Itabuna, Luís Eduardo Magalhães, Feira de Santana, Jeremoabo, Paulo Afonso e Vitória da Conquista. Confira abaixo:

 

- Andreia Silva (Rede Bahia) quando fazia matéria na rua sobre a Covid-19 e foi perseguida, xingada e ameaçada por um negacionista (abril de 2020);

 

- Alexandre Lyrio (Correio) quando fazia matéria sobre o comércio aberto em Brotas e foi ameaçado por donos de estabelecimentos (abril de 2020);

 

- Silvana Oliveira, jornalista da Rádio Sociedade, ameaçada e assediada moralmente pelo ex-deputado estadual Marcel Moraes (PSDB), nas dependências do veículo (maio de 2020);

 

- Silmara Souza (jornalista) e o cinegrafista de nome Dario Honorato, da TV Cabrália, estavam fazendo uma matéria sobre a morte de um traficante durante uma ação policial em Itabuna. Eles foram agredidos fisicamente (empurrados) e ameaçados por pessoas não identificadas e tiveram que sair do local (junho de 2020);

 

- Repórter Andreia Giovanni, do Blog Sudoeste Digital, recebeu ameaças de seguidores do prefeito Haroldo Aguiar após matéria sobre a Covid-19 no município. Ela teve o telefone pessoal divulgado pelo executivo municipal na internet e foi alvo de ataques virtuais (agosto de 2020);

 

- Repórter Davi Alves, da Rádio Alvorada FM, foi vítima de agressão física enquanto realizava uma reportagem em Jeremoabo, que apurava denúncia de que recursos públicos estariam sendo empregados em obras particulares. Enquanto filmava, ele foi agredido pelo secretário de Infraestrutura e Obras, João Batista dos Santos Andrade (setembro de 2020);

 

- Jornalista Raquel Santana, da Rádio Moderna FM, apurava uma pauta sobre gastos da Câmara Municipal de Luís Eduardo Magalhães. A matéria foi divulgada com um erro no valor dos gastos. Após o fato, reconhecido pela emissora, ela foi assediada por três advogados a serviço do presidente da Casa, Reinildo Nery, que também a teria ameaçado. Ele depois negou ameaças (setembro de 2020);

 

- Repórter Ney Silva, do site Acorda Cidade, cobria uma manifestação de professores e camelôs em Feira de Santana. Eles protestavam contra a prefeitura local. Enquanto filmava a atividade, foi abordado por dois manifestantes que exigiram sua saída do local. Os agressores, que estavam sem máscara, gritaram a menos de 10 cm do rosto do colega (setembro de 2020);

 

- Léo Dias e Larissa Baracho, de Sergipe, trabalhavam na campanha eleitoral em Paulo Afonso e foram agredidos com spray de pimenta por assessores do prefeito Luiz de Deus (outubro de 2020);

 

- Alexandre Lyrio (Correio), que sofreu ataques na intenet, com a prática conhecida como “cancelamento digital”, por parte de clínicas veterinárias, por causa de matérias produzidas sobre o alto custo dos serviços cobrados a donos de animais em Salvador (outubro de 2020);

 

- Juscelino Souza, do site Sudoeste Digital, processado pela campanha do prefeito Herzem Gusmão, de Vitória da Conquista, por matérias com denúncias de obras superfaturadas da prefeitura do município (novembro de 2020);

 

- Indhira Almeida, xingada durante a campanha eleitoral em Vitória da Conquista pelo programa do prefeito Herzem Gusmão. Ela apresentava o programa do candidato concorrente e em vez do ataque ser contra a campanha, o programa do prefeito atacou a profissional, chamando-a de mentirosa (novembro de 2020).

 

NÚMEROS NÃO REFLETEM A REALIDADE
De acordo com o presidente do Sinjorba, Moacy Neves, certamente houve mais de 12 ocorrências relacionadas a agressão e assédio na Bahia no último ano. “Agressões físicas não temos tantas mais do que a gente recebe, mas ameaças com certeza existem muito mais. Isso é muito comum de acontecer, principalmente ameaça e intimidação. Muitos dos casos terminam morrendo ali entre os envolvidos”, explica, em entrevista ao Bahia Notícias.

 

Ele explica que, por conta de dificuldades relacionadas a pessoal no sindicato, é difícil estabelecer com clareza os números de agressões e ameaças ocorridos nos anos anteriores. Ele também cita a importância da denúncia para que os casos sejam divulgados. “Os dados não eram muito organizados. Nosso problema é que a categoria sequer nos procura. A gente fica sabendo porque um colega em comum nos informa”, lamenta. “Alguns dos casos levantados envolveram radialistas, a gente só ficou sabendo porque temos uma boa relação com o Sindicato dos Radialistas”, acrescenta.

 

Na visão Neves, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), é um dos responsáveis pelo discurso de ódio contra profissionais de imprensa. “O incentivo é muito explícito por parte do presidente da República para nos intimidar. Aquele comportamento dele quando dá entrevista à frente do Palácio é uma coisa feita de maneira deliberada”, opina.

 

Para acolher os membros da imprensa que sofrem dos ataques, o Sinjorba oferece assessoria jurídica.

 

Já o presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), Ernesto Marques, defende ser importante que haja a denúncia dos jornalistas e demais profissionais da imprensa aos órgãos competentes. “Denunciando, mobilizando as entidades para as medidas de defesa - medidas protetivas, quando é o caso -, ações judiciais e reforçando os vínculos de solidariedade na categorias... Se todo mundo botar a boca no trombone quando ocorrer uma ameaça ou quando a ameaça se consumar, com certeza inibe os agressores”, analisa. 

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